A estreia de “O Agente Secreto” no circuito internacional de cinema tem sido bem recebida pela crítica especializada. No Festival de Cannes, na França, onde o filme estreou, a produção foi premiada com o troféu da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci). Kleber Mendonça Filho recebeu a premiação de Melhor Diretor, e Wagner Moura, que estrela o longa, levou o prêmio de Melhor Ator.
Ao NSC Total, Gabriel Jacome, diretor de conteúdo da TV Globo e membro da Academia Internacional de Televisão Artes e Ciências do Emmy, pontuou a importância do retrato feito pelo longa dos anos 1970 no Brasil, e de como a ditadura militar impactou também a vida de pessoas fora do círculo político. Jacome assistiu ao filme no último domingo (18), em Cannes.
— O filme foi muito bem recebido, foram mais de 10 minutos de aplausos de pé, foi um filme que repercutiu muito, não só pela sua história, que é muito poderosa, mas pela atuação de Wagner Moura nesse seu retorno, a atuação em português. Ele passou os últimos anos trabalhando só com a língua inglesa, e é um filme de retorno dele. Mas [repercutiu] também pela maturidade de Kleber Mendonça Filho, que chegou a atingir o seu auge. É um cineasta que tem um domínio total da linguagem e trabalha tanto o texto quanto a atuação de atores de uma maneira muito singular, o que chama muito a atenção do mercado — disse o diretor de conteúdo da TV Globo.
Sobre a possível indicação a um Oscar (como previu a BBC, por exemplo), Jacome disse acreditar em “O Agente Secreto” como o representante brasileiro “com mais chances nas próximas premiações”.
O que diz a crítica internacional
A BBC comparou o drama policial ambientando nos anos 1970 com “Ainda Estou Aqui”, que retrata a mesma época, em que o Brasil vivia uma ditadura militar. Diferente do vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, no entanto, o longa de Kleber Mendonça Filho “compensa com excitação o que lhe falta em sutileza”, segundo a BBC, que deu quatro estrelas ao filme.
A agitação e os elementos cruéis do longa, como uma perna humana encontrada na barriga de um tubarão, e as explosões, são elementos que fazem a crítica comparar o brasileiro a Quentin Tarantino, reconhecido por não maneirar na violência em suas obras.
No Rotten Tomatoes, plataforma que reúne diversas críticas do mundo todo, a nota de “O Agente Secreto” é de 95% de aprovação, com base em 22 resenhas.
A revista Variety elogia a “capacidade notável [de Mendonça Filho] não apenas de recriar, mas de nos transportar de volta àquela época, com seu calor opressivo e paranoia”. A publicação compara novamente a obra do pernambucano à de Walter Salles, o que se torna quase um padrão, considerando a proximidade que as duas produções, ambas brasileiras, ganharam notoriedade internacional.
Já o The Hollywood Reporter escreveu: “Apesar de seus floreios humorísticos e personagens cômicos, “O Agente Secreto” é um filme profundamente sério sobre uma época dolorosa do passado brasileiro”, relembrando mais uma vez se tratar, apesar dos elementos cômicos e absurdos (como a perna no estômago de um tubarão), de um thriller político ambientado em plena ditadura militar brasileira. A publicação ainda conclui: “Certamente um dos melhores filmes do ano”.